Uma das desvantagens de ser criança hoje em dia e de não se brincar na rua com todos os meninos do bairro/cidade/vila é eles ficarem com uma falta de noção de "desenrrascanço" e outra é de que nem todos vivem de forma igual. E o que eu tento explicar isso às minhas filhas.
Não porque ache que as pobres das miúdas devam ser confrontadas com a dura realidade, mas para perceberem que a vida é assim mesmo. (E, um bocadinho também, para pararem de reclamar da minha sopa e de terem peixe à refeição em vez de carne. Que uma mãe tem limites na paciência)
Mas é difícil. O discurso "há meninos que não têm o que comer" soa-lhes tão tonto como soava a nós quando o ouvíamos. "Oh mãe, mas não comem peixe, não é? Que sorte". Obviamente que eles têm tempo para perceber estas coisas todas, mas acho que lhes falta um bocadinho de noção mesmo.
Lembro-me de ir para a escola a pé ou de carro se estivesse a chover e de ver colegas que chegavam com os pais de de mota e outros de carroça (não sou assim tão velha, mas era uma cidade pequena e havia quem fosse de carroça sim). E só isso nos dava uma lição tão clara de que ir de carro quando estava a chover era uma sorte tão grande.
Pergunto-me se esta falta de conhecimento é boa ou má a longo prazo. Há uns anos li um artigo do Dr. Daniel Sampaio que contava que quando tirou os filhos, já adolescentes, de uma escola privada para uma escola pública, que eles acharam imensa piada a terem deixado de ser dos mais pobres da escola (privada) para serem dos mais ricos (na escola pública). Irónico, não é?
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